Alberval é fiscal, e tem o nariz em pé.
Na memória da cachola, vou botando no talão de estórias. Auto de infrações é a minha literatura de ponta de esferográfica. A pesquisa in loco é o que chamamos de visita técnica de fiscalização sanitária. O relatório de ocorrências é minha obra concluída pra lançar. Ninguém gosta de fiscal, ou então tem quem goste demais, ao ponto de estar sempre querendo me presentear para que eu dê o fora fazendo vistas grossas.
O faro, literalmente é uma ferramenta de trabalho, com ele, percebo o que tem de podre no reino dos mercadinhos e todos os armazém de quentes, secos, molhados e gelados de Ipiaú.
A simpatia é outro instrumento para chegar, papear, olhar, cheirar – checar as validades – autuar ou não, rapidinho, e se pirulitar: há casos de colegas que já levaram chumbo quente para terra fria dos pés juntos.
O meu serviço não é dos mais sadios, se juntasse tudo que já vi num livro, seria proibido para menores, hienas e avestruz.
Comerciante acha que cliente pode e deve comer coisa estragada: ontem se eu não chegasse a tempo na Mercearia Espanha, a moqueca de muita gente ia terminar na Samu: Dona Pilar, a proprietária gorducha, tentou justificar o gato sujinho, perebento, em cima da geladeira, como um invasor da rua, um desses vira-latas mal educado. A origem do bichano porém foi facilmente desvendada, quando ameacei dar pra ele, um pedacinho do peixe detonado, do estoque que eu acabara de apreender ali no depósito do estabelecimento "impecavelmente limpo", como propaga no placa luminosa. A dona me impediu: - não, ele tem o estomago fraco!
Antes que eu pedisse o autógrafo dela na minha crônica do fedor anunciado, ainda tentou obter minha santa compaixão, com um combo de bacalhau da Noruega, e ovões da páscoa recheados com duas notas de cem.
E enquanto ela ficava tentando amolecer meu coração de pedra, não viu que seu felino de estimação, fazia gulosamente um lanchinho extra, na mercadoria apreendida. Miauuu!
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