O projeto tem como objetivo buscar a inclusão social das crianças de Paraisópolis
Primeiro a criança vence a timidez e a vergonha, depois ela se apóia nas demais que como ela também estão aprendendo a cantar. Com o passar do tempo aprendem a melodia, o ritmo e por conseqüência a alegria em cantar. Porém o canto coral exige atenção na música, no regente e, além disto, é necessário soltar a voz. Mas é difícil, para uma criança socialmente excluída, com suas emoções reprimidas, na sua maioria pela violência cotidiana, conseguir soltar a voz.
Com o corpo ainda tenso, após alguns ensaios, ela aprende a importância do relaxamento, do aquecimento e principalmente da concentração. Mas concentrar-se também é difícil. Na escola os professores exigem concentração mas é difícil, é impossível! Não é divertido! Não existe alegria no ato de estudar.
Cantar, cantar é diferente, é gostoso, é alegre e divertido. Então ela aprende que prestar atenção e concentração não é um bicho de sete cabeças, não é algo impossível, é só deixar a musica tomar conta do pensamento e do corpo, apoiando-se às vezes no colega do lado e com ele acompanhando o grupo e deixar se levar, aprendendo o sentido da letra da música ou então a sua melodia. Claro é preciso se concentrar na música, prestar atenção no regente, aprender os movimentos do regente, o momento certo de entrar, de subir o tom, de cortar a frase ou segurar a nota musical.
Com o tempo ela se percebe fazendo música com o grupo e descobre o prazer de fazer música.Vem então a primeira apresentação, a expectativa do passeio, de sair do seu pequeno mundo e conhecer novos lugares, novos ambientes. Que legal conhecer um shopping, um teatro com um palco.
Mas toda essa gente vai nos assistir? Será que vai dar certo?
O susto passa quando ela começa cantar, lembra de como é divertido e gostoso cantar e sem se dar conta se descobre com satisfação a sua capacidade de realização com os aplausos. Todos aqueles ensaios, repetindo músicas e trechos de músicas deram resultado ela foi capaz de fazer algo bonito, encantou as pessoas com o seu canto. A semente da auto-estima começa a brotar.
Neste contexto onde cantar é sinônimo de realização, de satisfação, alegria e auto-estima, são colocadas a necessidade da higiene pessoal, da postura, da disciplina, do respeito, do silêncio na hora certa, da pontualidade e do compromisso com os estudos. A resposta é imediata e extremamente gratificante.
O ato de repetir músicas e trechos de músicas até acertar não parece mais ser tão cansativo, elas se descobrem reconhecendo os seus erros e procuram corrigi-los, não há competição pois estão no mesmo grupo, “fazem parte da mesma música”.
Através do canto coral, estas crianças socialmente excluídas tem a possibilidade de ter contato com este novo universo, onde informações, conhecimentos, conceitos, responsabilidades e regras são trabalhadas com alegria, afetividade e de forma prazerosa.
A possibilidade de uma nova apresentação, de um outro passeio, do contato com este novo universo, amplia o seu horizonte, o seu mundo ficou maior, ela agora se permite sonhar, tem esperanças de um futuro melhor.
Neste momento você percebe o tamanho da sua responsabilidade, “você se torna responsável por quem cativas”. É uma opção que se faz onde não se é permitido desanimar ou desistir. Mas é também uma experiência prazerosa e gratificante, é um enorme aprendizado.
Comments