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A Privada


O advogado e escritor João Baptista Pimentel Jr. escreveu sobre este local democrático

Certa feita escrevi, nesta modesta coluna, que a maior invenção do século é o desodorante, porém um colunista de outro jornal assevera que é a bacia da privada, o popular "troninho".

Entretanto, em minha opinião, um dos mais aplazíveis e democráticos recantos da terra é a própria privada, ou latrina, ou dejetório, ou secreta. O fleugmático inglês dá-lhe o pomposo nome de water closet (W.C.)

É "neste lugar solitário, onde a vaidade se acaba, onde o covarde faz força e todo valente se ...," que homens tornam-se iguais, sejam ricos ou pobre. Nem o rei, nem o presidente da república, o prefeito, o senador, o deputado, o papa, as belas misses e os diplomatas escapam de arrear as calças e sentarem lá. Todos são iguais perante uma privada, inexistem privilégios. Isso é que um é um local democrático!!!

Diz o dito popular que o homem tem certeza de duas coisas, da morte e de que irá pagar impostosos. Eu acrescento uma terceira certeza: a de que, diariamente, comparecerá a uma privada.

Trata-se de um local de silêncio e meditação. É um verdadeiro confessionário. Alguns lá preferem ler jornais, livros, revistas, publicações pornô, etc., outros o almanaque capivarol, confortavelmente sentados, como um rei em seu trono. Há até quem atenda o celular no W.C. - "Pronto, estou falando diretamente de meu banheiro. Um minuto só, espere eu me limpar..."e , se for mais pernóstico poderá dizer. "Just moment, please...".

Quem garante que as grandes obras literárias não foram inspiradas, sob os fortes odores daquele recanto tão contemplativo?

Quem garante que os grandes projetos atuais do Congresso Nacional não tenham nascido, no silêncio daquelas quatro paredes, entre os dejetos expelidos pelos nobres congressistas?

A verdade é que, em filosofia, o local é imbativel. Há muitos anos atrás, estava grafitado numa das paredes de um W.C.da FAFI de Rio Claro, a seguinte "pérola": "Virgindade dá câncer". No outro dia um 'filosofo latrinal (neologismo - inventei hoje) deu o "troco"da seguinte forma: "Diga isso à sua irmã, seu bicha enrustido".

Mas ninguém escapa à filosofia dos W.C.s públicos. Nem o pobre nem o imperador. Torno a dizer, lá existe a verdadeira democracia e liberdade de expressão. Numa pesquisa realizada, em banheiros públicos, foi constatada, sobre o pobre, a seguinte e profunda frase filosófica: "Se as fezes fossem dinheiro, o pobre nasceria sem nádegas". E sobre o imperador: "Defecar é a lei do mundo, defecar é a lei do universo, defecou Dom Pedro Segundo, defecando fiz este verso".

João Baptista Pimentel Jr.

Advogado e Escritor

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